olhando minhas fotos de anos atrás, eu não me reconheço.
olhando no espelho a minutos atrás, eu não me reconheço.
é como se eu estivesse entre essas duas imagens, entre a pessoa e o reflexo, como se eu fosse algo no meio, uma espectro do que realmente é visto ou fotografado.
e isso é horrivel...meu deus como é horrivel.
no fim não sou nada, nem o passado nem o presente, mas o que há entre essas linhas temporais? não há nada, o vazio, a inexistencia
e me sentir inexistente é uma constante intorpecente que vez ou outra me pega pela mão e conduz minha vida por horas, dias, semanas, até que algum vislumbre de realidade humana me desperta do torpor do vácuo de quem eu sou.
tudo isso para então eu voltar a me afogar nas águas do meu limbo pessoal.
parece uma brincadeira sem graça, uma maldade gratuita, de um senso de humor terrivelmente ácido que beira o desumano, porquê me deixar viver na superficie apenas para me puxar para as profundezas de novo?
será que é um meio de me lembrar da minha amarga falta de existência?
será que é o castigo por justamente não saber quem sou?
respirar por alguns segundos só faz com que a falta de ar que virá seja mais devastadora e atroz, mas de certa forma eu sinto um abraço familiar nessa tortura da alma, como se ali eu soubesse quem eu sou: a constante incerteza, o meio, a passagem.
é louco pensar como a dor é uma conhecida minha, que eu quero tanto que vá embora e nunca mais volte, porém quando seu retorno acontece - porque ele sempre virá - eu me sinto em casa, tão familiarizada com o torpor da angustia que não me surpreendo, apenas vivo o infortunio que acompanhará minha alma pelos próximos dias.
eu me pergunto onde está a verdadeira vida, a minha verdadeira vida, pois se não sou a que viveu no passado, não sou a que vive no presente, sou quem então?
sou alguém?
ou sou apenas uma existencia entre essas vidas, algo no meio, uma passagem?
por que não posso ser eu a que sinto a vida, a alegria, o prazer?
por que minha consciencia tem de estar no que está no meio?
aqui não é minha casa, eu não pertenço a esse espaço entre vidas, mas também não sinto que pertença a lugar nenhum...
meu olhar já está ficando vazio, os movimentos sem propósito e a fala sem sentimento. estou entrando no limbo da vida entre vidas, estou afundando lentamente, me sinto entorpecida e a superficie está cada vez mais longe, mais longe....mais...longe...